Uma abordagem combinada de monitoramento cardíaco fetal avançado e cirurgia durante o parto permitiu o tratamento bem-sucedido de um grande teratoma intrapericárdico — um tumor raro localizado ao redor do coração do feto. O caso, publicado na revista científica Fetal Diagnosis and Therapy, foi conduzido por uma equipe liderada pelo pesquisador e cirurgião materno-fetal brasileiro Rodrigo Ruano, da University of Miami.
O tumor, identificado na 20ª semana de gestação, apresentava rápido crescimento, aumentando o risco de compressão cardíaca e insuficiência circulatória, o que poderia levar à morte fetal. “Ao longo da gestação, a equipe realizou ecocardiogramas fetais seriados, com análise quantitativa da função cardíaca, método que permitiu avaliar com precisão o impacto do tumor sobre o desempenho do coração”, explica Ruano.
O médico ainda conta que, quando houve piora súbita da função cardíaca do feto, os médicos optaram pela realização de um procedimento EXIT-to-resection — técnica na qual o bebê é parcialmente exteriorizado durante a cesariana, mantendo a circulação ainda ligada à placenta enquanto os cirurgiões removem o tumor. “A placenta funciona como um suporte vital temporário, permitindo que o bebê continue recebendo oxigênio enquanto realizamos a cirurgia. Isso evita uma parada circulatória ao nascer”, conta.
A cirurgia foi bem-sucedida. A equipe afirma que o recém-nascido apresentou função cardíaca normal, respirou sem suporte e recebeu alta da UTI no quinto dia de vida. Aos 18 meses, a criança apresenta crescimento e desenvolvimento neurológico normais.
Os teratomas intrapericárdicos são extremamente raros e, quando grandes, podem causar insuficiência cardíaca e morte intrauterina. O caso demonstra que o monitoramento detalhado da função cardíaca fetal pode orientar o momento ideal da intervenção, e que a técnica EXIT-to-resection surge como uma alternativa segura quando realizada em centros especializados.
“É possível combinar tecnologia de imagem avançada e cirurgia fetal para salvar a vida do bebê antes mesmo do nascimento. O mais importante é reconhecer precocemente, monitorar com precisão e intervir no momento certo”, conclui Rodrigo Ruano.




