Com o anúncio de um novo pacote tarifário pelo governo dos Estados Unidos, impondo 50% de taxação sobre produtos brasileiros a partir de agosto, o mercado nacional entrou mais uma vez em alerta. Embora ainda haja incertezas sobre a efetivação dessas sanções e as medidas que podem ser tomadas pelo governo brasileiro, os sinais de retração já ecoam na indústria e nos modelos de abastecimento. Nesse contexto de instabilidade geoeconômica e pressão sobre a cadeia de suprimentos, a logística emergencial se apresenta como um ativo estratégico na resiliência operacional das empresas.
Nesta entrevista, o especialista em logística emergencial Marcelo Zeferino, chief commercial officer (CCO) da Prestex, traz uma análise do cenário atual, avalia os riscos e expõe as oportunidades que podem emergir tanto com o redirecionamento de exportações do Brasil para outros países, quanto ao reposicionamento para o mercado interno.
Zeferino destaca que primeiro é importante explicar a diferença de natureza e propósito da logística emergencial e logística convencional para as empresas. “O transporte convencional envolve o movimento regular e planejado de mercadorias para atender à demanda previsível de um mercado, seguindo rotas e cronogramas estabelecidos. Já o transporte de carga emergencial é caracterizado pela urgência e necessidade imediata de entrega, geralmente em resposta a uma imprevisibilidade como alterações de rota, demanda inesperada, parada de produção, quebras de máquinas, desastres naturais ou até mesmo emergências na área de saúde”. O especialista ressalta ainda que a urgência logística B2B requer resposta rápida e personalizada, utilizando alta performance, rotas alternativas e combinação de modais com prevalência do aéreo, para garantir que as mercadorias cheguem rapidamente ao destino. Confira a entrevista:
1 – A taxação anunciada pelos EUA pode não se concretizar. Mas, na sua visão, quais os sinais que o setor logístico deve observar para se antecipar?
Marcelo Zeferino: O setor precisa acompanhar não só os desdobramentos políticos, mas também os movimentos das grandes indústrias brasileiras com laços internacionais. Os EUA são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, então qualquer empresa com alguma correlação pode ser impactada. Quando grandes empresas brasileiras do setor de bens de capital, que dependem fortemente do mercado americano, começam a revisar suas estratégias, é um sinal de realinhamento na cadeia de suprimentos. Obviamente, tudo isso respinga na indústria local, afetando praticamente todos os setores, o que é um desafio. Mas é possível enxergar oportunidades também.
2 – Quais setores você vê como os mais sensíveis à nova configuração logística?
Marcelo Zeferino: A aeronáutica, agroindústria, equipamentos industriais e bens de capital certamente precisarão readequar seus canais de abastecimento. E no meio desta conexão estão as operadoras logísticas que transportam as cargas para essas indústrias, como componentes, peças, maquinários, grãos, além de bens de consumo. E, claro, as operadoras que trabalham com estratégias personalizadas e alta performance em logística podem ganhar relevância neste contexto.
3 – E sobre os mercados menos afetados, como Óleo e Gás e commodities? A Prestex também vê oportunidades nesses segmentos?
Marcelo Zeferino: Com certeza. Ainda que não estejam no epicentro da crise, esses mercados aproveitam momentos como esse para otimizar suas operações. O Brasil tem potencial de redirecionar essa produção e, nesse ajuste, há necessidade de agilidade logística, especialmente em demandas fora do padrão.
4 – Existe um risco de paralisação na malha logística nacional? Ou o impacto será redistributivo?
Marcelo Zeferino: O que geralmente ocorre é uma redistribuição forçada. Empresas que antes dependiam de insumos internacionais começam a buscar soluções locais. Isso muda não só o fluxo de transporte, mas também a lógica dos estoques e centros de distribuição. E essa reconfiguração exige respostas rápidas, exatamente o que a logística emergencial entrega.
5 – Caso o tarifaço de 50% seja efetivado, como a logística emergencial aérea B2B pode ajudar empresas brasileiras a se manterem operacionais e competitivas?
Marcelo Zeferino: A logística emergencial aérea é, possivelmente, a rota mais estratégica em momentos de descontinuidade comercial. Ela viabiliza reposição imediata de insumos, aceleração do fluxo entre centros produtivos e entregas em rotas alternativas, especialmente quando o prazo é fator determinante. Em algumas empresas, como na Prestex, por exemplo, há protocolos para embarques críticos, mantendo desde veículos leves até aeronaves de pequeno e grande porte em sobreaviso. Isso permite atender prontamente empresas que enfrentem atrasos ou rupturas na cadeia, com uma solução rápida, segura e economicamente viável para manter a produção ativa e clientes abastecidos.
6 – Com o dólar voltando a subir e o cenário econômico instável, como equilibrar cautela e ousadia nas estratégias das operações logísticas?
Marcelo Zeferino: A cautela vem da análise precisa dos riscos. A Prestex, por exemplo, trabalha com algoritmos preditivos, rotas alternativas e gestão integrada de risco para ajustar a malha operacional à demanda real de cada cliente, em tempo hábil. A ousadia está em enxergar janelas de oportunidade onde outros só veem retração. O modelo de negócio da Logística Emergencial é pensado justamente para momentos críticos assim, com necessidade de velocidade, flexibilidade e assertividade. O equilíbrio se dá entre análise estratégica e execução tática, garantindo viabilidade econômica e vantagem competitiva. As empresas que se posicionarem bem agora, sairão à frente quando a maré virar.
LOGISTIQUE – De 12 a 14 de agosto, a Prestex levará informações sobre Logística Emergencial para um dos maiores eventos de transporte, logística e comércio exterior: o Logistique 2025, no Expocentro Júlio Tedesco, em Balneário Camboriú (SC). Com previsão de receber mais de 16 mil visitantes, o evento discutirá temas como macroeconomia, geopolítica, alianças econômicas, sustentabilidade, infraestrutura e inovação. A participação reforça o compromisso da Prestex em contribuir com o desenvolvimento da logística nacional e ampliar sua atuação frente aos desafios do mercado global.